PIONEIROS, SOLIDÁRIOS, VOLUNTÁRIOS E VÍTIMAS DO DESCASO
A solidariedade faz parte do DNA de Joinville. Temos a sorte de ver essa virtude compartilhada tanto por aqueles que aqui nasceram, quanto pelos que se fizeram joinvilenses. Um dos grandes símbolos dessa alma solidária é a Sociedade Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville, instituição pioneira no país, com impressionantes 120 anos de bons serviços prestados à comunidade.
Não há uma única mancha nessa trajetória centenária. Por isso, quero crer que a Proposta de Emenda Constitucional que se arrasta na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, acirrando a disputa entre bombeiros militares e voluntários, seja fruto da total ignorância sobre a importância do papel da corporação, e não de mero corporativismo.
O presidente da ACIJ, no passado, costumeiramente presidia a Sociedade Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville. Na década de 1970, uma série de incêndios criminosos começou a pipocar pela cidade. Foram destruídas igrejas, escolas, indústrias. A ação do Bombeiro foi rápida. Presidida por Udo Döhler naquele momento, agilizou um amplo movimento para reequipar a entidade e, em paralelo, uma campanha publicitária de valorização da corporação.
Isso não foi uma ação isolada de uma determinada gestão. Até hoje, todos os que estiveram à frente dos Bombeiros Voluntários não se furtaram aos esforços de mobilizar regularmente a sociedade e autoridades em geral, para garantir a continuidade da excelência dos trabalhos oferecidos.
O Bem comum acima de tudo
Os Bombeiros Voluntários surgiram da busca de soluções próprias que contornassem as longas esperas pela boa vontade do poder público em agir. É um exemplo inegável da força da sociedade organizada. O sucesso da corporação está justamente em não curvar-se às dificuldades, e isso desde a época de sua criação. Dar um pouco de si à comunidade era obrigação de todos; o bem comum acima de tudo. Cada voluntário, além de providenciar a confecção de seu uniforme, arcava com a compra de uma corneta.
Naquela Joinville sem telefonia, o instrumento era a forma improvisada de comunicação, sendo tocado sempre que um dos voluntários identificava ou era avisado de um foco de incêndio. Tal como as chamas, o som da corneta se propagava entre as casas e os locais de trabalho da equipe, até que todos estivessem avisados e rumassem ao batalhão da Jaguaruna para atender a ocorrência.
Voltando à PEC da Assembleia Legislativa, é sempre interessante lembrar que, enquanto alguns semeiam a discórdia, há cerca de 177 municípios em Santa Catarina carentes de qualquer serviço nesse setor, seja comunitário, voluntário ou militar. O crescimento de nossas cidades pode até ter asfixiado o espírito de solidariedade, mas roguemos para que não tenha comprometido irremediavelmente o bom senso de alguns parlamentares.
Leia a coluna da ACIJ na íntegra aqui