Os (Novos) Caminhos da Educação Profissional
Criamos uma falsa impressão no Brasil de que só tem sucesso quem faz um curso superior. Como um profissional da educação, seria loucura eu não acreditar nisso. Entretanto, precisamos fazer algumas ponderações a esse respeito. A primeira delas é que não é em todas as áreas que necessitamos de mais pessoas com nível superior. Portanto, temos um
inchaço em determinadas áreas e uma escassez em outras.
Dois pontos são importantes para reflexão: pelo lado da escola, será que existe excesso de pessoal formado porque se realizam cursos em que os investimentos são menores em laboratórios, independente da necessidade do mercado? Pelo lado do mercado, será que faltam profissionais qualificados porque a remuneração não é atrativa?
A segunda questão decorre da primeira. Vemos os trabalhadores ingressando no mercado com mais facilidade quando possuem um curso técnico do que os recém-formados em muitos cursos superiores. Dessa forma, este talvez seja o momento mais importante da educação profissional no Brasil. Por isso, torna-se o mais desafiador para as Escolas.
Por que digo isso? Porque não podemos mais pensar em apenas formar profissionais para o domínio da técnica, mas pessoas conscientes de suas responsabilidades – com a empresa, com a sociedade e com a sua própria formação. O desafio está em estruturar os cursos
de forma que atendam as necessidades do mundo do trabalho e transformem os alunos em eternos aprendizes, já que, na sala de aula não será possível lidar com todo o conhecimento acumulado pela humanidade. Portanto, será preciso formar profissionais capazes de aprender a aprender.
Nestes tempos em que a educação profissional começa a ser reconhecida por seu valor à sociedade, seja pelos governos, seja pelas empresas, cabe às escolas aproveitar as oportunidades e contribuir para o fortalecimento da nação. Isso acontecerá se a escola
reconhecer que sozinha não poderá resolver os problemas.
Assim, se no passado a educação profissional não caminhou tão próxima do mundo do trabalho, atualmente se faz condição necessária. A parceria com empresas é fundamental para se conhecer o que o mercado espera em cada profissão. É um processo que surge antes do lançamento de um curso, já na construção do desenho curricular. Mas não pode parar por aí. Deve continuar durante o curso, com os estágios, visitas técnicas e
palestras e se estender além dele, com a absorção dos alunos formados pelo mercado de trabalho.
A parceria, entretanto, não se limita apenas às empresas. Pode e deve se estender aos profissionais, por meio da educação continuada, que ocorre além do espaço escolar – afinal, seria ingênuo crer que o saber encontra-se apenas no universo escolar. Ela está na
internet, livros, seminários, congressos, palestras, troca de experiências e também nos cursos. Cabe à escola propor tal educação por meio de itinerários formativos, capazes de conduzir o trabalhador ao crescimento dentro da profissão. Ter um conjunto de cursos para um mesmo segmento da economia é uma maneira de contribuir com a formação das pessoas e preparar melhores profissionais para o mundo do trabalho.
Enfim, investir na educação superior é fundamental para o desenvolvimento de uma nação, mas isso não significa que a educação profissional de nível médio deva ser tratada como um acessório. O Brasil precisa e conta com a formação destes profissionais!
Ronaldo Ribeiro, mestre em administração, diretor do Senac Joinville e presidente do Núcleo das Escolas de Educação Profissional da ACIJ