O Brasil pode dar fim nesta terça-feira ao que seria um dos mais vergonhosos episódios de sua história, com o arquivamento (ou qualquer outra manobra estatutária) do projeto de Lei de “10 Medidas Anticorrupção”, que era meritório em sua origem, mas que agora serve apenas de pano de fundo para anistiar parlamentares de crimes “corriqueiros” no Congresso Nacional, como o Caixa Dois.
A proposta, cuja votação foi adiada na última quinta-feira pelo presidente da casa Rodrigo Maia, que rendeu-se ao apelo popular e à pressão do Judiciário, atende ao que o líder do Governo, senador Romero Jucá, classificou como “Estancamento da Sangria”, ao referir-se ao elevado número de crimes revelados e pessoas envolvidas, a partir da operação Lava-Jato.
Nossos associados também manifestaram-se fortemente contrários a esse pacote de medidas que, lá pela metade do seu texto, de forma discreta, sentencia que não serão punidas as doações não contabilizadas ou não declaradas, leia-se Caixa Dois. A Casa enviou expediente aos nossos parlamentares, pedindo a não aprovação do pacote.
A autoanistia é somente o efeito mais imediato de tal pacote que, caso prospere na sessão da Câmara dos Deputados nesta terça, sacramentará um estado de instabilidade constitucional jamais visto, trazendo ainda mais insegurança e jogando uma pá de cal num processo moralizador que vem sendo aplaudido por 99% da sociedade brasileira.
A chamada “Operação Abafa”, que envergonha o Brasil inteiro, terá desfecho amanhã. Diante de tamanha visibilidade que o assunto ganhou nos últimos dias e da vigilância redobrada que todos faremos no Congresso Nacional, espera-se que os deputados tenham serenidade e responsabilidade para brecar o que seria um dos maiores retrocessos de nossa história.