Um salto nas vendas brasileiras de petróleo e produtos siderúrgicos para os Estados Unidos está amenizando a desaceleração das exportações para a Europa, que sofre com o agravamento da crise. Mesmo com uma economia cujos indicadores de crescimento não empolgam os mercados internacionais, os EUA voltaram a ganhar peso nas exportações brasileiras, empurrados por fatores conjunturais, depois de nove anos perdendo relevância.
Segundo levantamento da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), entre 2002 e 2010, a fatia dos Estados Unidos nas vendas externas brasileiras caiu ano a ano, de 25,4% para 9,5%. Entre janeiro e outubro deste ano, o porcentual registrado foi levemente
superior: 9,7%.
Para especialistas, no entanto, ainda é cedo para se falar em uma reversão da tendência de queda da participação americana. “O petróleo é o grande sustentáculo desse crescimento. Se a fatia dos EUA crescer daqui para a frente, é por causa do petróleo”, afirma Fernando Ribeiro, economista-chefe da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).
Ele avalia que as perspectivas para produtos industrializados, que competem com itens chineses, continuam desfavoráveis, especialmente num momento em que a economia americana não vive a melhor fase. “Os EUA são um país bastante aberto, as tarifas são muito baixas para calçados e bens de capital. Mesmo que fizéssemos acordo comercial, não faria muita diferença”, diz.
Os números da balança comercial deste ano são resultado, em grande parte, de um empurrão dado em Santa Cruz, bairro da zona oeste no Rio, pela Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA). É de lá que a usina de ? 5,2 bilhões inaugurada pela ThyssenKrupp e pela Vale há menos de um ano e meio está embarcando sua produção de placas de aço para os Estados Unidos.
De janeiro a outubro deste ano, as exportações de semimanufaturados de ferro e aço para o país saltaram 422% ante igual período de 2010, passando de US$ 263 milhões para US$ 1,4 bilhão, puxadas pelas vendas da CSA. Esse montante respondeu por 22% do aumento das exportações brasileiras pra os EUA no período.
Preços. Já as exportações de petróleo, item que está no topo da lista de produtos vendidos aos EUA, foram impulsionadas pela elevação dos preços internacionais da commodity, embora o volume vendido também tenha crescido. Até o mês passado, as exportações de óleo brasileiro para os Estados Unidos subiram 56%, atingindo US$ 4,4 bilhões.
Especialistas ouvidos pelo Estado não souberam explicar o aumento, uma vez que, este ano, a Petrobrás está reduzindo o volume enviado para os EUA para atender a alta da demanda interna por derivados de petróleo. A empresa deve fechar 2011 com exportações de 500 mil barris/dia, ante 550 mil em 2010. Uma das possíveis explicações é que outras petroleiras tenham incrementado as remessas de óleo.
No entanto, a perspectiva é de que as vendas da Petrobrás para esse mercado voltem a crescer. A empresa prevê que em 2020 produzirá cerca de 5 milhões de barris/dia, ante uma demanda interna de 3,2 milhões de barris. “Vamos ter um excedente e esse petróleo vai ser alocado nos locais de maior rentabilidade. Pela proximidade que temos com os EUA, possivelmente deve haver um incremento de exportação para lá”, disse o diretor de abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa.
Embora a expansão das vendas para os EUA tenha compensado em receita o avanço mais tímido na Europa, o governo comemora com reserva. A secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Tatiana Prazeres, destaca que, como as pautas de exportações para as duas regiões são diferentes, não há necessariamente uma migração das vendas de um lado do Atlântico para o outro.
“O que se notou no mês de outubro são taxas de crescimento diferenciadas para esses dois mercados. O balanço é positivo. No entanto, alguns mercados, em particular a União Europeia, exigem atenção especial do Brasil neste momento”, diz. No mês passado, as exportações brasileiras para a Europa avançaram apenas 13%, ante 39% de aumento das vendas para os EUA. No acumulado do ano, as taxas são de 26,6% e 31,8%, respectivamente.
O vice-presidente da AEB, José Augusto de Castro, não vê com bons olhos a política comercial brasileira nos últimos anos, em especial durante o governo Lula. Ele critica a falta de missões comerciais oficiais aos EUA e a mudança da pauta de exportações, em que os produtos industrializados perderam espaço para as commodities.
“Em 2000, a iniciativa das exportações era mais do Brasil. Agora que exportamos majoritariamente commodities, a iniciativa de compra e de preços é do importador. Não temos controle”, diz.
Fonte: O Estado de São Paulo
(16/11/2011)