Segundo estudo da CNI, o custo da energia no Brasil é mais que o dobro do que no México e cinco vezes superior ao custo na Argentina, por exemplo
Na próxima segunda-feira, dia 23, a ACIJ receberá o secretário de Estado da Fazenda, Paulo Eli, que trará o tema Desoneração da Produção. O assunto não poderia ser mais apropriado já que tudo o que se vê e o que se ouve caminha numa direção exatamente oposta, basta ver os reajustes tarifários que nos aguardam.
Jornais da última semana ainda mostram o que podemos chamar de “resultados de uma morte anunciada”. A paralisação dos caminhoneiros, associada à morosidade e pouca competência com que o Governo Federal tratou do assunto, resultaram num enorme prejuízo ao País e afetou profundamente todo o segmento produtivo e a cadeia de consumo, com reflexo em tudo o que seja mensurável, inclusive na arrecadação dos tributos. De acordo com o IBGE, a produção mensal catarinense teve queda de 15% em relação ao mês anterior (abril) e de 8,2% em comparação a maio de 2017 , cuja base já não era boa.
O que se percebeu em junho e nesta primeira metade de julho é um movimento forte de redução de custos, que passa por desligamentos, terceirizações, reduções de jornada, cortes em linhas de produção, lay-off e outras medidas que visam, mais uma vez, manter as empresas vivas, e tentar retomar a competitividade. Como se não bastasse todo esse cenário, nos próximos dias novos componentes expressivos de custos serão impostos para as empresas, através dos fortes aumentos nos preços do gás e da energia elétrica, fortes insumos no processo produtivo. Isso aumentará ainda mais os custos, sem muitas perspectivas de repasse aos novos contratos e absolutamente impossível aos negócios já contratados, com entrega futura. Num cenário de inflação que deverá se posicionar entre 2% e 3% ao ano, aumentos em torno de 10% para a energia elétrica e 28% para o gás são considerados abusivos. Todas as entidades empresariais devem refletir sobre esses reajustes e reagir fortemente. Aqui vale para a classe empresarial o exemplo dado pelos caminhoneiros, mas os de verdade.
Segundo estudo da CNI, o custo da energia no Brasil é mais que o dobro do que no México e cinco vezes superior ao custo na Argentina, por exemplo. A disponibilidade, preço e qualidade desse suprimento são determinantes para a competitividade industrial – o mesmo se aplica para o gás natural.
A exemplo do modelo de transporte, onde estamos reféns dos caminhões, mesmo tendo um litoral fantástico para navegação e cabotagem e uma malha ferroviária que pode ser estimulada com mais eficiência, também na energia nos sobra poucas opções, já que mais de 80% do que consumimos está no domínio estatal.
No caso do Gás, a CNI propõe a remoção das barreiras a novos ofertantes, estímulo da produção em terra e a criação de um sistema de transporte independente e robusto para o insumo.
Isso, a longo prazo. Mas, e no mês que vem, quando a conta vier com um reajuste de 10 a 28%, quem segurará os empregos? Quem garantirá a produção e o faturamento? Quem vai abastecer os cofres públicos com os respectivos impostos?
Antes que o caos aconteça, operadores do sistema e governos precisam ouvir as empresas e conversar, renegociar e achar caminhos, antes que seja tarde demais.