Aos sete anos, Marcos Alves dos Santos sofreu um acidente de carro e perdeu a audição, mas a dificuldade não o afastou da vida profissional. Ele aprendeu a ler lábios para se comunicar e começou a trabalhar aos 18 anos — idade que considera avançada para o primeiro emprego. Entrar no mercado, contudo, exigiu coragem:
— Na época, tinha muita dificuldade para trabalhar. Eu sentia que estava atrapalhando as pessoas e me envergonhava por não escutar direito.
Com o tempo, Santos se acostumou. Passou por funções em diversas empresas e, aos 48 anos, ao trabalhar como conferente no centro de distribuição da Cassol Centerlar, afirma que a sua simplicidade e carisma foram essenciais.
A Lei 8.213 de 1991 prevê a inclusão de deficientes nas empresas e facilitou a inserção no mercado. Coordenadora de recrutamento, Roberta Rodrigues, da consultoria Talento Incluir, especializada em deficientes, diz que a situação está mais favorável.
— Há alguns anos essas pessoas ficavam muito em casa, não trabalhavam. Hoje estão mais qualificadas — analisa Roberta.
Contudo, para a consultora, ainda há dificuldade em atingir o equilíbrio entre o que os profissionais procuram em termos de carreira e remuneração e o que encontram no mercado.
Organizações precisam se adaptar aos profissionais
Segundo Roberta, o processo de captação desses profissionais não diferencia dos demais. São avaliadas as competências técnicas e comportamentais e a aderência do candidato à cultura da empresa. É essencial, além disso, avaliar se a deficiência permite executar determinadas tarefas. Há casos em que é necessário acessibilidade da edificação e do mobiliário, intérprete de LIBRAS e tutores para deficientes intelectuais.
Fundador do portal de recrutamento Deficiente Online, Claudio Tavares, que não tem a mão direita, afirma que antes as empresas ofereciam vagas operacionais pois não acreditavam que os deficientes poderiam ter escolaridade maior.
— Hoje, no site, temos mais de 40 mil candidatos inscritos, 32%, em média, estão em fase de conclusão ou já concluíram a graduação — informa.
O principal, contudo, é desenvolver a cultura inclusiva na empresa para que as adequações venham naturalmente. Isso significa compreender que os colaboradores podem ser cobrados como os demais, respeitando-se as limitações e garantindo que eles possam se desenvolver pessoal e profissionalmente.
O que diz a Lei 8.213/91
Contratação
A empresa com 100 ou mais funcionários é obrigada a preencher cargos com beneficiários reabilitados ou portadores de deficiência, habilitados, na proporção:
2%: até 200 empregados
3%: de 201 a 500 empregados
4%: de 501 a 1 mil empregados
5%: de 1.001 em diante
Dispensa
Desligar o trabalhador ao fim de contrato por prazo determinado ou dispensa imotivada em contratos por prazo indeterminado só poderão ocorrer após contratar substituto de condição semelhante.
Fonte: Diário Catarinense