Todos sabemos que o Brasil é um país rodoviarista. Que sua matriz de transportes, a pior que poderíamos ter, é baseada no transporte rodoviário, com 60%. Somos um país rodoviarista e, no entanto, temos apenas 1,5 milhão de quilômetros de rodovias, sendo apenas cerca de 170.000 asfaltadas. Os EUA, segundo estatísticas, têm mais de 6 milhões de quilômetros, com pelo menos uns 70% asfaltados.
Nossa ferrovia pode ser considerada a pior do mundo. Em que evoluiu para 28.000 quilômetros entre 1854 e 1920, subindo a 36.000 em 1948, para 32.000 em 1964 e para pouco mais de 28.000 atualmente. Em que, em termos relativos, temos 3,4 quilômetros lineares de ferrovia para cada 1.000 quilômetros quadrados de território. A Argentina tem 12, a Inglaterra 60, a França 70, e a Alemanha 130. Em termos absolutos, a Alemanha tem 45.000 quilômetros de ferrovias. O Japão 23.000. Os EUA têm uma ferrovia total de 300.000 quilômetros, ou 32 para cada mil quilômetros quadrados de território.
O país tem uma quantidade enorme de rios, talvez maior do mundo, com cerca de 42.000 quilômetros. Mas apenas 13.000 são hidrovias, com uso de 8.000, e meros 2% da carga circulante no país. Nossa costa marítima é de 7.500 quilômetros, e mal aproveitados e investidos. O tempo médio de permanência de um container no porto, segundo a Santos Brasil, é de 17 dias. A média mundial é de cinco dias.
O Fórum Econômico Mundial, na análise da qualidade da infraestrura, nos coloca, segundo seus estudos relativos a 2011, nas seguintes posições.
Na média geral estamos na 104ª. posição. Individualmente, temos a 91ª. posição em ferrovia, a 110ª. em rodovia, a 122ª. em aerovia e 130ª. em portos. E isso, pasme-se, na análise entre 142 países.
Considerando que somos a 6ª. economia do mundo em termos absolutos – embora esse tipo de análise seja falso – podemos nos dar conta da vergonha que isso representa. Se considerarmos nossa real posição econômica no mundo, pela análise da renda per capita, muito mais realista, já que considera a produção total (PIB – produto interno bruto) em relação aos habitantes que produziram sua riqueza, também nos colocamos muito abaixo do que deveríamos. Já que nela estamos pouco acima da 50ª. posição.
O investimento na infraestrutura brasileira explica tudo. Dizem que pertencemos ao BRIC – sempre contestamos e dissemos que isso não existe, existindo apenas RIC. Neste quesito também estamos fora da realidade deles. A Índia investe por ano 4% do seu PIB. A Rússia e a China investem 5% cada. O Brasil investe meros 0,49% do seu PIB. Qualquer empresário, economista, cidadão de bom senso e com alguns parcos conhecimentos econômicos sabe que isso é uma tragédia.
Assim, não há como ter um sistema logístico, produtividade e competitividade adequados. De modo a concorrer em condições de igualdade com o mundo. Sem contar as nossas recordes cargas tributárias, taxas de juros e muitos outros problemas. Resultando em baixíssimos investimentos de cerca de 18% em toda a economia. Pouco mais de 1/3 da taxa da China.
E, pior que isso, nos damos ao luxo de criticarmos a China pelos nossos problemas. Que seriam muito mais graves sem ela.
É representativo e importante destacar, para reflexão, que no ranking internacional de educação, em leitura, matemática e ciências, de 2011, nos colocamos, respectivamente, nas 53ª., 57ª., e 53a. posições. A Rússia em 43ª., 38ª., 39ª.. A China, considerando Shangai e Hong Kong, na 1ª., e 3ª. em todos os quesitos.
Samir Keedi,
Professor da Aduaneiras e de Pós- MBA, bacharel em economia, autor de vários livros em comércio exterior, transporte e logística, membro da CCI-Paris na revisão do Incoterms 2010.
e-mail: samir@aduaneiras.com.br