Ulysses Guimarães dizia que não há nada que um governante tenha mais medo do que o povo nas ruas, quer dizer, caminhoneiros nas ruas. Considerando que o País se move sobre rodovias – já que praticamente não possui ferrovias – os efeitos desta paralisação são imprevisíveis, causando enormes preocupações não apenas às empresas, mas à população em geral.
O que nos assusta é a falta de sensibilidade de um governo que, em meio a esse turbilhão, vem a público dizer que precisa fazer um ajuste de R$ 80 bilhões e que isto virá, especialmente, de novos aumentos de tributos que ocorrerão durante o ano. Justifica ainda a necessidade do ajuste porque o governo possui uma conta chamada “restos a pagar” de apenas R$ 240 bilhões. Restos a pagar? Restos do que? Isso por si só já dá os motivos pelos quais a inflação está fugindo ao controle e nos leva a crer que as rédeas da recuperação ainda não estão nas mãos mais adequadas.
Os caminhoneiros pararam e a justificativa do preço do óleo diesel é apenas a materialização de um caminhão de insatisfações que aflige não apenas a eles, mas a todos nós. O preço do diesel simboliza as péssimas condições das estradas, a burocracia a que estão submetidos, a impossibilidade de repassar custos às empresas, excessiva tributação, as dificuldades de logística, a insegurança e a falta de previsibilidade.
São, na sua grande maioria, pequenas empresas vestidas de caminhoneiros que não conseguem enxergar o que será da sua atividade daqui a 60 dias. E no meio de tudo isso, os Deputados aprovam pacote de medidas, em benefício próprio e de suas esposas, que aumentam a despesa do legislativo em R$ 150 milhões anuais. Quando o dia 15 de março vier e se as coisas continuarem como estão, aumentando o clima de tensão, salve-se quem puder.