Época, idade, período. São alguns significados trazidos pelo dicionário para a palavra tempo. Tempo de resposta, tempo de vida, tempo de serviço. A infinidade de conjunções é tão grande quanto o mistério envolvendo essa unidade que se convencionou para medir o compasso da existência. Medição é o guia para os físicos entenderem o tempo. Para eles, é mais fácil encontrar meios de mensurá-lo do que teorias que possam explicá-lo. “Tempo é certamente uma das grandezas físicas mais difíceis de definir. Einstein expressou essa dificuldade ao escrever, em uma de suas cartas dirigidas a amigos, que ‘O passado, o presente e o futuro são apenas ilusões, ainda que tenazes’”, anota José Fernando Fragalli, doutor e professor de física da Udesc Joinville. Já os meros humanos se agarram ao clichê de que o “tempo está passando cada vez mais rápido”, na ânsia de justificar a relação atravessada que muitos estabelecem com essa unidade.
Na ciência, estudiosos já levantam a possibilidade de uma série de relógios biológicos que contabilizariam datas e horas dentro do organismo. Para o neurocientista Warren Meck, o cérebro humano seria dotado de uma espécie de cronômetro, chamado de relógio de intervalo, em que a marcação ativaria as faculdades cognitivas do córtex cerebral. Assim, hormônios como dopamina e adrenalina, liberados em alta escala, causariam a sensação de aceleramento.
Hoje reconhecido como o “Senhor do Tempo” no país, Christian Barbosa sofreu até encontrar uma forma de domar essa força. “Aos 14 anos, abri minha primeira empresa de tecnologia. Alguns anos depois, tive severos problemas de saúde por estresse e falta de tempo. Comecei a me interessar por tudo relacionado ao assunto e acabei atuando como instrutor de consultorias do Brasil e do exterior para cursos de administração de tempo”, conta.
Para ele, a falta de tempo se tornou uma reclamação comum entre profissionais e empreendedores que encaram tarefas demais – e sentem dificuldade ao organizá-las e cumprir prazos. “O grande problema é que muitas pessoas não sabem administrar bem essas atividades. A perda de produtividade é uma consequência”, constata. Em seu método, elaborado a partir de pesquisa com 42 mil pessoas, Christian estabelece a divisão em três esferas: importante, urgente e circunstancial. A tríade do tempo atua como indicador gráfico da utilização do tempo, permitindo identificar qual esfera tem predominado. “O método condena a existência simultânea de atividades importantes e urgentes, o que propõe uma mudança de paradigma estabelecido há décadas e utilizado pelos grandes pensadores da área”, afirma.
É com base na concepção de uma produtividade positiva que Seiiti Arata, fundador da Arata Academy, criou o programa “Produtividade Ninja”. Para ele, o tempo é uma constante; logo, não pode ser controlado. “O que precisamos é administrar a nós mesmos. Podemos aumentar nosso poder de foco e concentração, além de aperfeiçoar nossas habilidades pessoais: corpo físico, mente, emoções e propósito”, argumenta. Os ninjas que topam o desafio desenvolvem sete níveis: fortalecimento físico e emocional, como instalar novos hábitos, foco ninja, envolvimento pleno nas tarefas, ferramentas auxiliares, outras habilidades, como técnicas de comunicação e persuasão, e a criação de um “clã de ninjas”. “Esse ‘clã‘ é composto por nossa ‘equipe’, que pode ser a do trabalho ou nossa família e amigos, que nos ajudam. Quando podemos contar com várias pessoas, a ansiedade diminui, se aprendemos como delegar e acompanhar o que foi delegado”, salienta Seiiti.
A equipe da Nova Acrópole aposta na filosofia como ferramenta para que o ser humano conheça a si mesmo e, assim, aprimore suas limitações. “Vivemos na sociedade da informação. O problema é estarmos despreparados para lidar com toda essa oferta. Acabamos tentando nos informar de tudo na maior quantidade possível e depois nos sentimos nauseados”, analisa Fernando Cesar Trindade Soares, diretor da Nova Acrópole Joinville, atrelando o desconforto à ansiedade, que não cessa nem quando a pessoa está alegre. Planejamento, organização, agenda e lista de tarefas, faculdades psicológicas, controle do estresse e ansiedade e priorização de atividades são alguns métodos da organização. “Se pensarmos no tempo como ‘energia’, poderemos agir para que a direção do tempo de que dispomos esteja coerente com a direção que queremos”, ensina.
A psicóloga Kethe Oliveira recebe muitos pacientes relatando a falta de tempo como motivo de estresse, que se soma aos sintomas como cansaço, dificuldade para dormir, problemas de memória, entre outros. Tais sinais podem levar ao desenvolvimento de doenças emocionais como Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), transtorno de ansiedade, depressão etc. “Imagino que ainda vai demorar para desacelerarmos, visto que a maioria quer aproveitar a juventude para fazer tudo o que puder, como trabalhar em vários empregos simultaneamente e ganhar mais dinheiro, para garantir uma ‘velhice’ segura. A mudança deve acontecer a passos pequenos, com educação, informação e orientação, já que na sociedade atual o ter ainda dita o nosso ritmo de vida”, pondera.
Tal agitação é comum na rotina do médico Raffael Juan Gonçalves Del Olmo, que se acostumou a focar a energia nos projetos e se controlar para alcançar os objetivos. Desde o ano passado, concilia a rotina de cirurgias na clínica de ortopedia da família, em Campo Alegre, com a estruturação de uma fábrica de cervejas especiais, a DOM Haus, em Araquari. “Sempre estive acostumado com viagens, pois estudei em Curitiba e Joinville, isso não me incomoda. Também durmo pouco, em torno de quatro horas, que são o bastante para me recuperar”, afirma. Foco é uma das palavras que lhe guiam. Foi assim que decidiu deixar a medicina para se tornar empresário, o que deve ocorrer definitivamente no final de fevereiro, quando a cervejaria for inaugurada. “Percebi que, para chegar aonde queria, precisava amar a profissão ou ficaria difícil. Sempre gostei de negócios e, por isso, procurei algo com grande potencial de mercado”, conta.
A maratona na busca do melhor endereço para a cervejaria, recrutar funcionários qualificados e formular um plano de negócios levou Raffael a convidar um sócio para entrar no circuito. Felipe Mazon veio para equilibrar os negócios, auxiliando na área de marketing e produção, além de estar presente quando o médico não pode. O celular de Raffael não para. É por ali que ele se organiza, despacha ordens de serviço e se comunica com os funcionários. Nos fins de semana, a prioridade é a namorada – mas ele sabe que, depois da inauguração, a correria vai aumentar, exigindo dedicação redobrada. Adepto dos esportes, o empresário também procura reservar espaço para a academia, prática a que se dedica desde os 14 anos. “É muito bom, não só pelo aspecto físico, mas pelo mental também. Com uma atividade, você consegue espairecer, o que permite render mais depois”, salienta.
Na onda da otimização do tempo, vários serviços surgem para auxiliar aqueles que não dão conta do recado sozinhos. Além de cursos e treinamentos para administração da agenda, outras atividades prometem suporte a quem se vê em meio ao caos sem ter a quem recorrer. A Etiqueta do Lar é um caso desses. Voltada para serviços de organização (até de mudanças), treinamento para funcionários domésticos e cursos de etiqueta, a empresa atende clientes de todo tipo – desde aqueles que precisam organizar os armários até os que estão em busca de orientação para promover um jantar de negócios. “Hoje, todos vivem em extrema correria no trabalho, cuidando de seus lares, família, e seus pertences acabam acumulados. Isso gera atrasos e perda de funcionalidade”, afirma Evelize Olímpio, fundadora da empresa. Para ela, organização deve fazer parte da rotina. Se tudo estiver em seu devido lugar, o dia já começa promissor. Uma das dicas mais importantes, segundo a consultora, é não empilhar tarefas sem ir até o fim, para não iniciar algo novo sem antes concluir o que já está sendo feito. “No caso de peças de uso pessoal, como roupas, separar os itens que têm uso uma vez ao ano é primordial. Se usou apenas uma vez em 365 dias, é sinal de alerta. Repasse a peça a alguém que aproveitará mais vezes”, recomenda Evelize.
Letícia Caroline